segunda-feira, 11 de abril de 2011

Conselhos para melodias descartáveis 22

Ao longo da história da música electrónica, houve sempre algumas editoras e artistas que tomaram o comando rendendo-se á missão de desbravar território e explorar sonoridades. Poderiam enumerar-se diversos nomes, mas os sobreviventes provam que projectar é também uma qualidade necessária para conquistas sucessivas. Paul Rose a.k.a. Scuba e a sua editora, Hotflush Recordings são desde 2003, não só sobreviventes mas lideres na exploração de novos campos sonoros do Dubstep.

O cruzamento de influências, muitas vezes dispares sempre foram uma constante nas edições desta editora, tornando-se parte da sua identidade. É incorrecto catalogar o espólio da Hotflush simplesmente como Dubstep, mas géneros como Future Garage, Post Dubstep, Breakstep, Dubstep/Techno e outros tantos foram usados como descrições para sonoridades onde a mutação de géneros é o principal mote.

O que torna a Hotflush numa editora única é todos os artistas nela envolvidos, é a capacidade de unir influências sem cair em clichés ou mashups sem sentido. As influências desenvolvem-se entre si e comunicam, trazendo sonoridades novas não só ao Dubstep mas também ao Techno; House; 2step; Garage; Breaks; Hip hop, e etc.

Assim se define uma editora influente no panorama musical.

Back and 4th, compilação da Hotflush disponível em três 12” de produções exclusivas ou duplo CD/download. O segundo disco é uma compilação de alguns dos momentos mais importantes da Hotflush. Como em qualquer retrospectiva com um catálogo invejável como o da Hotflush, há sempre faixas essenciais que ficam de fora. Esta, baseia-se num passado relativamente recente com Mount Kimbie, Joy Orbison e Sigha entre outros. Isto poderá reafirmar um distanciamento de sonoridades mais obviamente dubstep. Caberá então aos ouvintes interessados ir desencantar as pérolas das primeiras produções de nomes como Shackleton, Benga e Distance entre outros, o que demonstra desde cedo, um olfacto apurado para edições prometedoras.

Quanto ao prato principal, temos uma selecção de exclusivos que se preza pela diversidade e frescura e em que cada produtor se coloca fora da sua zona de conforto. Sepalcure abre o álbum com uma aproximação clássica ao 2step seguido dos fat breaks de Boxcutter, um produtor que teve a sua primeira edição na Hotflush por alturas de 2005. O produtor do momento Boddika (Instra:Mental) traz o single de apresentação desta compilação, Warehouse, uma faixa com um caracter retro acid Techno, seguido por D-Bridge que investe em terrenos do Drum n Bass com tendências love song e uma entrega vocal do próprio.

A primeira metade é fechada pelo mastermind desta pequena revolução musical, Scuba. Actualmente erradicado em Berlim, algo que se tornou uma influencia cada vez mais evidente, nas edições e sets como SCB. Nesta faixa a distancia entre Scuba e SCB é diminuída num típico hands in the air tech house, uma influência directa das manhãs do Panorama Bar. Um dos pontos altos deste álbum é a faixa de FaltyDL, um crescendo de camadas épicas e breaks semelhantes a Amon Tobin, terminando num suspenso 2step/house. Sigha foi mais uma das descobertas da Hotflush dos últimos dois anos que tem proporcionado produções de qualidade com um Techno abstracto e escuro que ao mesmo tempo eleva qualquer pista de dança á comunhão num êxtase. George FitzGerald, um produtor a ter debaixo de olho, que nos presenteia a sua segunda produção, liga o clássico deep House ao Future garage.

Outro dos pontos altos desta compilação é Incyde que aqui se estreia com um arrastado e super pesado Electro mutante num exemplo perfeito do que a Hotflush representa neste momento. A fechar temos Roska que se distancia ligeiramente do UK funky por que é conhecido, aproximando-se a uma electrónica quebrada e abstracta.

Passados oito anos do primeiro lançamento da Hotflush, e ouvindo o catalogo até agora editado, é fácil perceber esta progressão e assim digerir uma compilação que foge a caminhos óbvios não só do Dubstep mas da musica electrónica em geral, lançando o mote de um eclectismo coeso e sofisticado. A dois anos de uma possível comemoração de um décimo aniversário, só nos resta especular acerca dos caminhos e sonoridades que daqui sairão e desfrutar da viagem proporcionada por alguns dos produtores mais interessantes do underground electrónico do momento.

Abraços e até para a semana com o review de Buster.

1Way

Sem comentários:

Enviar um comentário